segunda-feira, 21 de abril de 2008

Não fiques na praia...

Elogio ao Saber Fazer



Não é habitual copiar integralmente textos com esta dimensão. Não sei bem porque é que às vezes estas coisas nos acontecem, mas o que é certo é que me cruzei com este texto num dia muito forte para mim...e além deste texto, outros me suscitaram o desejo de os partilhar.

"O sonho deixa-nos inconstantes com a vida. E ainda bem, talvez.
Como pergunta um amigo nosso: o que será preferível, desejar intensamente, sonhar, fazer projectos e procurar realiza-los correndo o perigo da frustração e do insucesso, ou então esperar no contentamento da renúncia?

O que valerá mais: serão as emoções violentas, entre o balanço da alegria e do desespero, ou a indiferença do sempre igual?

Será melhor aceitar a vulgaridade fácil, o já visto, ou lutar pelo impossível?

Valerá mais morrer por uma paixão que é nossa, ou viver com a prudência que os outros nos mandam?

As civilizações, os povos, os indivíduos na sua juventude preferem o desejo, a paixão, o risco. Mas depois tudo se esvazia. Como diz o meu amigo Francesco, é a História do mundo que nos ensina.

Foi o desespero e o regozijo, o amor e o ódio esgrimidos pelos heróis de Homero.

Foi depois a renúncia aos desejos e às paixões, sabiamente ensinada (argumentada) pelos gregos.

Foi finalmente o cristianismo de sacrifícios, dos inconformados e da esperança, que deixou amadurecer-se e enganar-se pela voracidade dos homens.

Como todas as vontades dos homens, qualquer movimento, qualquer feito quando começa a esboçar-se, como que em acto de fé, está cheio de esperança, de um entusiasmo ingénuo que não encontra barreira capaz.

Só que depois sucede a resignação, encapuchada sob a forma de uma racionalidade prudente.

Como qualquer casal de namorados, nada parece atrapalhar os primeiros tempos de convivência e de construção em comum – e o quanto são difíceis por vezes esses tempos de acertos de compassos – depois é que vem o pior. Fixada na crueldade e na frieza dos objectos, a sobrevivência da relação só parece surgir quando, os dois, por si e em si, encontram capacidades para renovar, rejuvenescer e recomeçar.

De igual modo, a vida de uma qualquer organização, no nascimento, também consegue dar a sua imago de fluidez e bom desempenho de desafio inicial.

Só depois, na maturidade, seja mais tarde ou mais cedo, acabará por deslizar na desagregação e na crise, a apelar a desenredos mais ou menos cirúrgicos.

Por isso, só um esforço principado, estilo golpe de asa, os homens-que-não-gostam-de-não-saber acabarão por confinar em si o talento de começar de novo e melhor.

Por estas e outras razões, tenho cá para mim que embora seja preferível a paixão à compaixão, a imperfeição à vulgaridade, o entusiasmo à renúncia, a fé ao cinismo, não é nada fácil manter a Fénix de um desejo estranhamente inquieto de querer fazer, de querer saber fazer.

Assim como não é fácil a u povo tão velho na idade, renascer para novos grandes empreendimentos, para outras conquistas, para os desafios de novas utopias (ou agora possíveis).

Tanto mais que a grei é feita de diferentes entre iguais. Por isso e como manda a mui nobre arte da política, sabe-se que sem o respeito possível pela diferença nada se conquista, nada se muda: ouvem-se tons, degustam-se sabores, tocam-se brisas, observam-se cores, adivinham-se aromas numa pluralidade de experiências que nos ensinam (ou devem ensinar) a dialogar par conquistar.

O que nos vale então? Vale o saber de muitos e a necessidade de muitos mais o reconhecerem. Dêmos pois acrescentado valor e acentuando reconhecimento a todos aqueles que insistem em querer mais e melhor.

Aqueles que não encurtam nem matam o sonho de, apesar da sua inconstância, quererem saber o que querem fazer.”

Jorge de Almeida Costa
Crónica na revista «Pontes & Vírgulas»

nota: espero tervos deixado o desejo de agir!

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